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EP. 17 ORIGEM

DUDA

15h31

segunda


Eu estava dando o meu melhor para não surtar diante das novidades.

Primeiro, Felipe tinha me beijado acidentalmente. Depois, Guilherme terminou comigo e, por fim, apareceu noivo de uma garota dominense. Eu não escondi de ninguém minhas suspeitas: o flagrante de Guilherme foi só um motivo a mais para ele terminar comigo e seguir com o noivado.

Eu não era boba. Sabia como o povo de Dominus resolvia as coisas: era assim mesmo. Casamento arranjado pela família por interesse comercial era algo bem comum. Muitas pessoas me sugeriram que eu, como dominense, deveria entender o lado de Guilherme… O problema era que eu não era, de fato, dominense. Aquele costume não era tão familiar para mim, e eu achava uma verdadeira aberração. Além disso, o noivado não era o único motivo que eu tinha para ficar chateada com Guilherme.

De todo modo, como eu disse, eu estava dando o meu melhor para seguir com a minha vida. Tudo tinha mudado drasticamente, mas eu tentava me convencer de que tal mudança era para melhor. Para minha sorte, minhas amigas pareciam tão empenhadas quanto eu.

Encontrei-as na cafeteria do campus no meio da tarde de segunda. Tínhamos marcado um encontro despretensioso para papear sobre quaisquer coisas banais. Fizemos nossos pedidos e jogamos conversa fora. Ela, muito sábias, sempre contornavam qualquer assunto sobre relacionamento, principalmente sobre os últimos acontecimentos.

Maya era minha roomate. Ela tinha motivos para estar zangada comigo ou algo do tipo; mas, felizmente, ela era sensata e conhecia bem o namorado que tinha. Felipe e Vermelho eram duas criaturas atípicas, e não era justo condená-los por aquele acidente.

Depois de mais ou menos meia hora, alguém apareceu para nos incomodar. O homem de camisa social e gravata se posicionou no lado vazio da nossa mesa, com aquele sorriso que parecia dizer “eu adoro incomodar alunos que não estão estudando”.

— Boa tarde, meninas — disse ele.

— Boa tarde, supervisor Kim — disse Sunny, bem entediada. — Qual tarefa chata minha mãe passou pra você hoje? Não estamos em horário de aula.

— Obrigado, querida Sunghee, por me deixar ciente das nossas obrigações, mas eu estou só fazendo meu trabalho. Aliás, eu conheço bem os horários, não se preocupe. De uma coisa, você está certa: eu vim aqui a pedido da sua mãe para uma convocação de reunião.

— Ah, claro. Eu vou ter que ir pra mais um desses encontros chatos que não levam a lugar nenhum…

— Na verdade… — o supervisor Kim interrompeu-a cuidadosamente. — A diretora Choi precisa ter uma conversa com a senhorita Machado.

Um arrepio percorreu minha espinha.

Até então, eu não imaginava nem que a diretora Choi soubesse da minha existência, mas eu sabia que tinha um segredo do qual ela não iria gostar nada, se descobrisse.

— Eu? — perguntei, tentando não entrar em pânico e, principalmente, não demonstrar. — Tem ideia do que ela quer?

— Não tenho ideia, mas, se quer saber, ela não tá feliz.

Engoli em seco.

— Que horas é a reunião?

— Agora. Quer dizer… Daqui a dez minutos. Sabe onde é a sala dela?

— Sei — eu disse.

— Perfeito. Até daqui a dez minutos. Não se atrase.

Depois de dizer isso, ele se afastou.

— O que minha mãe pode querer com você, Duda? — perguntou Sunny, confusa, embora ainda analisasse o supervisor de longe.

Dei um suspiro.

— Eu imagino o que pode ser — confessei, e as duas me encararam, curiosas.

— Você fez algo de errado? — perguntou Maya.

— Meio que… sim. Na verdade, eu não sou de Dominus.

As duas ficaram surpresas, mas não tanto.

— Você é de outra cidade? — perguntou Sunny.

— É, eu sou de Campenos. Mas meus pais acharam melhor eu fazer minha inscrição como se fosse de Dominus para ter mais chance.

— E como conseguiu provar? — perguntou Maya.

— Meus tios são de Dominus — expliquei. — Na verdade, meu tio George nasceu lá, minha tia se casou com ele, e agora eles vivem lá. 

— Isso não deveria valer? — perguntou Maya, para Sunny. — Ela tem família lá.

— Mas não adianta — contou Sunny, um pouco triste. — Tem que ser ela ou um dos pais nascidos lá. — Ela pensou um pouco, e assumiu uma expressão determinada. — Eu vou com você. Minha mãe vai ter que reconsiderar.

— Acho melhor não, Sunny — eu disse, em voz baixa. — O erro do privilégio foi cometido, agora é hora de consertar.

— Mas como assim reconsiderar? — perguntou Maya. — Ela vai fazer algo grave?

— Bom… — disse Sunny. — Se a Duda mentiu para entrar aqui, a inscrição dela fica invalidada. Ela teria que… ser expulsa.

Maya olhou para mim, preocupada.

— Se for o certo, eu não tenho objeções — eu disse, com pesar, e me levantei em seguida. — Só quero acabar logo com isso.

— Boa sorte, Duda — disse Maya.

— Eu vou com você — insistiu Sunny, me seguiu.

Fomos juntas para a sala da diretora Choi, ou seja, da mãe dela. Ela entrou primeiro na recepção, onde havia uma secretária.

— Oi, Sunghee — disse ela.

— Oi. Minha mãe quer ver a Eduarda — disse ela, apontando para mim.

— Eduarda Machado, certo? Só um instante — ela apertou um botão na mesa. — Eduarda Machado está aqui. E sua filha também.

— Manda entrar — a voz de uma mulher falou.

— Podem ir — enfatizou a secretária.

Sunny agradeceu e seguiu para a sala da mãe. Era um escritório bem amplo, com móveis grandes, quadros, estantes de livros. Atrás da mesa principal, a senhora Choi não parecia muito feliz.

— Posso saber o que está fazendo aqui, Sunghee? — disse ela. — Eu não me lembro de ter te convidado para essa reunião.

— Eu estou acompanhando a minha amiga — disse ela, andando em direção à mesa com confiança. — Quero ajudar a resolver o problema, tenho certeza de que podemos contorná-lo.

— Eu acho bem difícil, mas, tá bom! Se você quer armar mais um circo no meu campus, pode tentar. Sentem, as duas.

Eu engoli em seco novamente e me sentei em uma das cadeiras, e Sunny na outra. Ouvi a porta se abrindo novamente e me virei brevemente a tempo de ver o supervisor Kim fechá-la.

— Senhorita Machado, — disse Hyeri — chegou ao meu conhecimento de que as informações e documentos da sua inscrição podem ser fraudulentos. 

— Posso saber como a senhora conseguiu essa informação? — arriscou Sunny.

— Isso é uma informação confidencial — disse ela. — E não vem ao caso. Senhorita Machado, eu verifiquei que, em sua ficha de inscrição consta que você é natural de Dominus, mas sua certidão de nascimento diz que você é de Campenos.

— É verdade — confessei. — Eu nasci em Campenos.

— Além da ficha, seu comprovante residencial aponta Dominus, uma residência em nome de George Neville.

— Ele é meu tio. Minha tia, Celia Machado, é casada com ele.

— Mas você nunca morou com seus tios, suponho.

— Não senhora — eu disse.

Ela abriu os braços, como se não houvesse mais nada a ser dito.

— Então, a senhorita admite que usou informações falsas para ingressar nesta universidade?

— Sim, mas essa decisão não foi tomada por mim. Meus pais e meus tios acharam que essa seria a melhor maneira.

— Uma maneira de burlar o sistema e ter mais chances de entrar, já que a Drim University é destinada, preferencialmente, aos nascidos e residentes nas cidades de Soul, Dominus e Mirai.

— Não foi ideia minha — insisti.

— Independente disso, minha querida, temo que terei que invalidar sua inscrição e sua matrícula, ou seja, convidá-la a se retirar da instituição.

Eu não tinha como argumentar, mas Sunny não ficaria quieta.

— Isso é mesmo necessário? — perguntou ela, em tom de provocação. — A Duda tem sido uma excelente aluna, com boas notas, participação em atividades extracurriculares, até ajudou a trazer o ouro no campeonato universitário. A origem dela não deve importar tanto assim.

— Não é muito sobre de onde ela é, Sunny, mas ela utilizou documentos falsos em sua inscrição. 

— Não foi culpa dela.

— Como eu já disse, isso não importa.

— Então, vamos trazer os familiares. Eu aposto que eles devem ter uma boa explicação.

A diretora Choi não segurou uma risada.

— Acha mesmo? Eles só fizeram isso para trapacear. Não existe boa explicação.

— Então nos dê mais um tempo — pediu ela. — Vou encontrar uma maneira melhor de recorrer.

— Tipo o quê? Vai fazer uma manifestação com todos os alunos? Ou trazer um boletim bem azul? Nada disso vai adiantar.

Sunny fechou a cara.

— Eu vou dar um jeito. Se a senhora me deixar tentar.

Hyeri revirou os olhos.

— Tá bom, Sunny, pode brincar de advogada o quanto quiser. Te dou dois dias, pode ser?

— Senhora — intrometeu-se o supervisor Kim. — Com todo respeito, as coisas já não estão suficientemente claras? Há mesmo necessidade de deixar sua filha usar sua influência para mudar o julgamento? Qualquer outro aluno não teria a mesma chance.

— Você tem um bom ponto — admitiu ela, em tom ameno, como se já soubesse daquilo. — Eu só prefiro deixar a Sunghee tentar provar que estou errada, para ter a certeza de que estou tomando a decisão certa. É praticamente impossível que ela prove o contrário.

— É o que veremos. Com licença, senhora Choi.

Sunny se levantou sem esperar permissão. Eu também me levantei.

— Foi um prazer, senhora Choi — eu disse rapidamente. — Espero que reconsidere.

Hyeri fez uma careta, como se estivesse apenas me aturando.

— Vão, podem ir. Dois dias, hein.



DUDA

16h12

segunda


— Você é maluca, Sunny — eu disse, enquanto voltávamos para o pátio. — Como tem coragem de enfrentar sua mãe assim?

— Ah, ela enche bastante o saco e se faz de autoritária, mas eu também tenho minha parcela de autoridade aqui.

— E você acha mesmo que tem alguma solução? Com tudo o que ela alegou, realmente parece impossível.

— Bom, eu acho essa palavra bem interessante, especialmente depois que alguém voltou dos mortos — ela desviou do caminho e entrou em um corredor diferente. No fim dele, havia mais uma sala com recepção. Ela entrou e se dirigiu à recepcionista. — Desejo falar com o reitor.

— Claro, Sunny, um momento.

A mulher se levantou e abriu a porta da sala anexa depois de bater. 

— Com licença, senhor. Sua filha.

— Pode mandar entrar — disse ele, lá dentro.

A moça se virou para nós.

— O reitor aguarda.

— Obrigada — disse Sunny, entrando na sala.

Apesar de toda a recepção ser menor, e a sala ser mais escondida, o interior era muito grande, talvez oito vezes maior que a sala da diretora. Havia estantes e estantes de livros compondo um labirinto, e vários recintos formados por conjuntos de móveis. Me surpreendi ao ver que o reitor estava jogando sinuca.

Hyungsik Hae não parecia ser o reitor, nem o ex-marido de Hyeri, nem o pai da Sunny. Ele parecia ter nossa idade, o que destoava um pouco do seu visual bem charmoso: um terno branco e lilás com sobretudo roxo escuro e uma echarpe roxa estampada pendurada no pescoço. Ele não estava sozinho: o treinador Alfa era seu oponente no jogo, usando o mesmo traje de combate de sempre.

— Ah, trouxe companhia? — disse ele, bem-humorado. — Querem jogar?

— Hoje não, pai — disse Sunny. — Temos um probleminha a resolver, com a dona encrenca, e esperava que o senhor pudesse nos ajudar.

Alfa soltou um risinho debochado.

— Nada com a Hyeri parece fácil — disse ele, me surpreendendo um pouco.

— Qual é o problema agora? — perguntou Hyungsik, preparando sua próxima tacada.

— A mamãe descobriu que a Duda não é de Dominus, e agora quer expulsá-la.

Hyungsik deu a tacada, e uma bola acertou o buraco. Então, ele virou um pouco o rosto, enquanto voltava à postura, e olhou para mim.

— E Duda mentiu na inscrição.

— Exatamente, senhor.

— Hum, isso é complicado — disse ele, antes de olhar para a mesa. Alfa estava preparando sua tacada. — Mentir não costuma ser bem-visto.

— Ela quer expulsar a Duda — contou a Sunny. — Acha mesmo que é pra tanto?

— Bom, pensando de forma fria… — ele parou para observar a tacada perfeita de Alfa. — Expulsão seria o protocolo. No entanto… — ele olhou para mim. — Não queremos que a jovem Eduarda Machado deixe nossa querida instituição, queremos?

Franzi o cenho. Jamais esperaria que o reitor me considerasse daquela forma, mesmo eu sendo amiga de sua filha.

— Eu sou mesmo tão especial para quebrar o protocolo?

— Você tem boas notas, e é uma das melhores em Woods Gods. Normalmente, isso não serve para salvar ninguém, mas vocês podem tentar. Eu recomendo que falem com os progenitores e com os tios envolvidos na inscrição, procurem documentos que possam validar a inscrição.

— Mas isso é praticamente impossível — eu disse. — Se eles tivessem provas mais concretas de que eu sou de Dominus, não teriam usado isso na inscrição?

— Será? — perguntou o reitor, em tom de mistério, se apoiando no taco.

— O senhor sabe de alguma coisa que não sabemos? — perguntei, um pouco afiada, talvez.

Ele conteve o riso.

— Eu sei de muitas coisas que vocês não sabem. Muitas mesmo. Não é, Alfa?

Alfa se encolheu um pouco, provavelmente querendo ficar de fora daquela treta, mas acabou fazendo um comentário.

— Ele é o deus da morte, meninas. 

— E eu também sou o reitor — enfatizou Hyungsik, pomposamente.

— Ok, então buscamos informações com a família — disse Sunny, prática. — Algo mais?

— Por enquanto, não — disse o reitor. — Eu gostaria de interferir pessoalmente, mas temo que isso não seria muito justo. Espero ter ajudado com minhas dicas dêiticas enigmáticas.

— Ajudou sim — disse Sunny. — Obrigada, pai, e obrigada, treinador. Bom jogo para vocês.

— Agradeço — disse ele. — Eu adoro jogos. Espero que Eduarda fique no campus a tempo de jogar com o meu personagem de Woods Gods.

Nós saímos da sala e da recepção, e nos vimos no corredor novamente.

— E agora? — perguntei. — Eu devo ligar pros meus pais, ou…

— Não — disse Sunny, certeira. — Me passa o contato deles e fica fria. Deixa que eu cuido disso.

— Tem certeza?

— Tenho. Eu acho que eu meu pai quer que eu resolva isso sozinha.

— Por que ele iria querer isso?

— Não sei. Hyungsik Hae é um grande mistério desde que voltou.



DUDA

12h31

terça


Saí da aula junto com Maya e fomos para o refeitório para almoçar. Antes disso, no entanto, identifiquei uma cena bastante peculiar.

Meus pais e meus tios estavam andando pelo campus, sendo guiados por Sunny. Expliquei isso a Maya e fui até lá.

— Gente! Não avisaram que viriam! — eu disse.

— Oi, Duda! — todos eles disseram e me abraçaram. 

— Não queríamos atrapalhar — disse minha mãe, Cecilia. — Viemos só para entregar um documento para a Sunghee, mas ela fez questão de nos mostrar o campus.

— Sua amiga é muito simpática e prestativa — elogiou tio George.

— Ah, que isso! — disse Sunny, gentilmente. — Bom, acho que eu já mostrei as coisas mais importantes, vou deixar vocês à vontade. Até mais, Duda.

— Até! — eu disse, ainda processando aquilo. — E aí, gente, gostaram da Drim?

— É literalmente um sonho — disse meu pai, Daniel. — Agora entendo por que você queria tanto estudar aqui.

— Espero que esse sonho não acabe, com essa treta — comentei. — Acham que vai dar pra resolver?

— Não se preocupe, querida — disse tia Celia. — Com o documento que demos a Sunny, tudo vai ser resolvido bem rápido. Sunghee vai marcar uma audiência com a diretora para hoje ou amanhã e esclarecer a situação.

— Eu também anexei uma carta — contou tio George — exigindo reparação pública.

— Isso é mesmo necessário? — perguntei. — Nós erramos em mentir na inscrição.

— Não, nós não erramos — disse tia Celia. — O documento vai provar isso. E, mesmo que tivéssemos errado, a universidade não tinha o direito de vazar essa informação. 

— É verdade… — eu disse. — De ontem pra hoje, todo mundo já está sabendo, mas eu não sei como… Eu duvido que a diretoria vazaria.

— Ah, certamente foi a mesma pessoa que contou pra diretora Choi — supôs minha mãe. — Quem espalha pra uma pessoa, espalha para várias.

— Eu não tenho ideia de quem seja essa pessoa — confessei.

— É uma universidade — disse meu pai. — Deve haver muitos jovens imaturos que podem te ver como inimiga.

Eu assenti, pensando em uma única pessoa: Valentina Ferreira.

— É verdade.

— Agora, nós precisamos ir — disse tio George.

— Já? 

— Era pra ser só uma passadinha — argumentou tia Celia — e vimos boa parte do campus. Mas amamos ver nossa menina, ao menos um pouquinho!

Nos abraçamos e despedimos. Fiz questão de acompanhá-los até a saída do campus, depois voltei para almoçar. Fiquei pensando no que seria aquele tal documento, e por que estavam todos sendo tão misteriosos.



DUDA

8h22

quarta


Eu estava assistindo aula, junto com Maya, como sempre. Inesperadamente, nosso professor foi interrompido quando a tela da sala se ligou sozinha. Aquilo era comum, sempre que havia recados importantes e urgentes da administração.

— Educadamente interrompemos todas as atividades para pronunciamento oficial da diretora Hyeri Choi — disse a voz do supervisor Kim, com a logo da universidade.

Ela foi substituída pela imagem da diretora em sua sala.

— Olá, alunos! Aqui é a diretora Choi. Nos últimos dias, vocês devem ter ouvido boatos sobre uma aluna, a Eduarda Machado, do curso de diplomacia. Circularam informações de que ela teria mentido em sua inscrição, alegando ser natural de Dominus quando, na verdade, é natural de Campenos. Obviamente, a diretoria decidiu averiguar essa informação. Isso não deveria vir a público, mas, devido aos boatos, achei melhor esclarecer a situação para evitar a proliferação de notícias falsas em nosso campus. Conclusivamente, nós recebemos ontem um documento definitivo para solucionar este caso. Chegou a nossas mãos a certidão de nascimento original de Eduarda Machado, documento no qual consta que ela é natural da cidade de Dominus, conforme sua ficha de inscrição e demais documentos anexados.

Eu estava boquiaberta. Não sabia o que pensar. A despeito de todos os olhares da sala entre mim e a tela, eu não sabia se meus pais e tios haviam falsificado um novo documento ou, o mais provável, se haviam mentido para mim durante toda a minha vida sobre meu local de nascimento.

— Acontece que a primeira certidão que foi anexada na inscrição dessa aluna era uma versão não-oficial, que continha informações incorretas. Os motivos para a existência de duas certidões são particulares da família, então, por favor, não criem especulações, muito menos busquem informações confidenciais com a aluna ou qualquer pessoa relacionada a ela. Com isso, a contrário do que pudemos cogitar no início, a aluna Eduarda Machado teve sua inscrição regularizada e segue devidamente matriculada em nossa universidade. Por ora, estes são os recados da diretoria. Atenciosamente, sua diretora, Hyeri Choi.

A tela se desligou, e meus colegas começaram a aplaudir e comemorar. Eu fiquei um pouco sem graça, mas sorri e agradeci. Os mais próximos começaram a me parabenizar por permanecer na Drim.

A aula continuou normalmente. Quando saí dela, conforme esperava, recebi muitos olhares, e alguns tiveram coragem de me parabenizar. O mesmo aconteceu no refeitório. Encontrei meus amigos casualmente, eles vibraram muito. Com destaque, é claro, Sunny, que encontrei dentro do refeitório. Eu a abracei por um longo tempo.

— Muito obrigada, amiga! Você realmente me salvou.

— Ah, é pra isso que servem os amigos. 

— Eu imagino que você saiba um pouco mais sobre mim do que eu.

Ela ficou séria, um pouco sem graça.

— É, eu precisei ficar sabendo de alguns segredos… Coisinhas que sua família não quer que você saiba, por enquanto.

— Por quê? — perguntei, um pouco indignada.

Sunny abaixou os ombros.

— Bem-vinda a Dominus, Duda. Somos uma galera cheia de segredos. Meu pai se tornou o deus da morte, e ele claramente esconde coisas de mim. Minha mãe também tem seus mistérios. Somos um monte de drama, e esconder as coisas dos filhotes é uma modinha.

— Eu não sei se quero fazer parte disso — confessei.

— Infelizmente, você não tem escolha — disse ela, e sorriu em seguida. — Mas ei, veja pelo lado bom: você tem com quem contar. Aqui na Drim, vai ter todo o apoio.

Eu assenti, e casualmente olhei para onde Guilherme estava. Não era surpresa que ele estivesse me espiando de vez em quando, conforme eu já tinha reparado.

— Ele foi o primeiro a saber — disse Sunny — sobre o problema com a sua inscrição. Eu ainda não sei como o pai dele descobriu antes de todo mundo.

— Meus pais acham que é a mesma fonte — expliquei. — A mesma pessoa contou pro pai de Guilherme, e pra diretora, e espalhou entre os alunos. Não consigo pensar em ninguém que seja tão mal-intencionado. Acho que nem Valentina faria algo assim.

— Olha, eu não sei se chegaria a tal ponto, mas, dentre todas as opções, eu colocaria minhas fichas nela. Espero que um dia possamos descobrir.

Educadamente interrompemos todas as atividades para pronunciamento oficial da diretora Hyeri Choi — disse a voz do supervisor Kim, novamente.

Todos olharam para a tela do refeitório. Fiquei apreensiva, com medo de ela voltar atrás ou algo assim.

— Olá, alunos! Aqui é a diretora Choi. Estou passando para lembrá-los de se prepararem para o Baile Mistério. Falta apenas uma semana, e os convites serão entregues hoje. No convite, vocês saberão as informações. Lembramos que é uma ocasião importante e só alguns de vocês serão convidados. Fiquem atentos ao Baile Mistério! Atenciosamente, sua diretora, Choi Hyeri.

Sunny fez uma careta.

— Viu o que eu disse? — murmurou ela. — É só mistério. Isso aí é coisa dos dominenses. Não se surpreenda se você for convidada.



DUDA

quarta

18h31


Cheguei ao quarto depois do treino e encontrei Maya analisando um pedaço de papel.

— É o que eu tô pensando? — perguntei.

— É — disse ela. — Chegou um pra cada uma.

Ela me ofereceu o meu.

A dobradura do papel era muito parecida com a que recebemos na recepção de calouros, mas ele era todo roxo com estrelas brancas, e tinha meu nome escrito.

Abri as duas abas, uma para cada lado, e li.


___________________________________________________


Eduarda,

você está sendo convidada para o Baile Mistério!

A participação é obrigatória.

O evento acontecerá na próxima quarta-feira, na quadra central do campus, a partir das 19h. Não se atrase!

Você receberá o seu traje especial na véspera do Baile. O traje mistura o estilo do evento com a sua personalidade.

Um grande anúncio será feito durante o Baile Mistério. Você não pode perder!


Atenciosamente,

… 

___________________________________________________



— Que sinistro — comentei. — Isso parece algo bem bizarro.

— Deve ser — concordou Maya.

— Sunny acha que tem a ver com os dominenses.

— Então, por que eu seria convidada?

— Você tem um bom ponto.

Mandei mensagem para Sunny, perguntando se ela havia recebido, e ela logo confirmou.

— Sunny também recebeu.

— Felipe também — disse Maya.

— Estou bem curiosa para saber o que é isso.


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