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EP. 14 VIAGEM PT. 2

MAYA

15h38

sábado


Depois de passar um bom tempo comemorando com o time e agitando a torcida, Sunny finalmente veio falar conosco.

— Isso aí, gostei de ver, todo mundo de roxinho!

— Claro, não perderíamos isso por nada! — disse Duda. — E tem que torcer a caráter, ainda mais quando estamos falando de cheer.

— Obrigada, vocês são demais.

— Você vai no jogo de basquete? — perguntou Guilherme.

— Eu preciso ir — ela disse, sem perder a animação. — Vamos fazer uma torcida tradicional para eles, como em toda final.

— Estou preocupada com o Jae — confessei. Finalmente, Sunny ficou um pouco mais séria ao olhar para mim. — Ele não me parece muito concentrado.

— Você acha que minha presença vai atrapalhar? — perguntou ela.

— Sendo bem sincera, não. Não acho que você seja o problema.

Involuntariamente, meu olhar se direcionou a Taesung, que ainda estava na quadra, conversando com outros colegas. Sunny seguiu meu olhar.

— Eu vou pedir a ele pra não ir.

— Tem certeza? — perguntou Duda.

Sunny se voltou para nós.

— Não posso correr o risco de atrapalhar o Jae. Esse momento é dele e dos meninos do basquete, então… se essa é a escolha que eu posso fazer para ajudar, não preciso pensar duas vezes.

— E ele não vai ficar chateado? — perguntou Guilherme.

— Ah, o Taesung se faz de sensível, né. Ele pode até achar que é grande coisa e fazer aquele drama, mas vai acabar entendendo. Eu sei negociar com ele. — Ela olhou para mim. — Obrigada pelo conselho, amiga.

Eu dei de ombros.

— Espero que ajude. Vamos estar lá para torcer por eles, também.

— Fico muito feliz. Então, vejo vocês lá.



JAE

16h30

sábado


Àquela hora, todos nós estávamos vestidos com os uniformes roxos dos Dragões, reunidos em roda no vestiário. Alfa também estava ali, esperando o momento de entrarmos. Era o meu momento de capitão. Eu estava tentando, a todo custo, deixar de lado a mágoa que sentia, e, naquele momento, eu precisava disso, mais do que nunca.

— Está na hora — eu disse. — Alguns dirão que é só mais um campeonato universitário, e talvez seja mesmo… mas, agora, isso é tudo o que temos. É tudo o que importa. Basquete é o que sabemos fazer, é o que adoramos, o que mais gostamos de fazer. Por isso, vamos dar nosso sangue mais uma vez, e fazer essa oportunidade valer a pena. É um campeonato universitário, e representamos a maior universidade de Jesver. Não se sintam pressionados por isso: estamos aqui porque merecemos, porque somos fodas. Então, galera, nós vamos entrar naquela quadra, ser fodas mais uma vez, colocar fogo naquele lugar e levar nosso troféu para casa. De acordo?

— Sim! — todos gritaram, o que me fez sorrir.

— Então vamos lá! Aquecendo.

Todos começaram a aquecer, mas eu puxei Felipe para outro canto do vestiário, onde ficava o armário dele, e abri a porta, onde ficava o espelho. Dessa forma, pude olhar para os dois. No primeiro momento, fiquei apenas encarando.

— Quem vai começar? — perguntei.

— Eu — disse Vermelho, que já estava no corpo.

— Ok. Vermelho, você é razão. Felipe, você é emoção. Não se esqueçam disso. Vocês são apenas um. Sincronia!

— Sim senhor, capitão — os dois disseram.


MAYA

16h40

sábado


— É a hora da grande final do basquete masculino! — anunciou o locutor. — Todos estão preparados? Quero ouvir a torcida dos Tigres de West Hill!

A metade da quadra que estava com uniformes em cores quentes gritou e aplaudiu, fazendo um grande barulho.

— Vamos receber seus líderes de torcida!

Vindo de um dos vestiários, parte do time de cheerleading entrou na quadra, agitando sua torcida. Eles se prepararam e fizeram algumas acrobacias simples.

— Mas todo campeonato tem adversários. Hoje, a luta é contra os Dragões de Drim. Cadê a torcida?

A última parte foi meio abafada, porque os alunos dessa faculdade sabem é fazer barulho. Um pequeno fato: nem todos os times que representavam a Drim eram dos Dragões, mas, quando a briga é com outras universidades, não há rivalidade que separe as atléticas. No jogo mais importante da temporada, eu reconheci algumas Raposas usando camisetas roxas, já que não tinham uniformes da nossa atlética.

Quero ressaltar, também, que nossa torcida foi nitidamente mais expressiva do que a dos Tigres.

— E claro que eles também vão contar com seus recém-premiados cheerleaders!

Sunny entrou puxando o bonde, e alguns cheerleaders vieram atrás dela. Realmente, Taesung não estava entre eles. Comecei a me sentir culpada, mas também percebi que só havia veteranos ali.

Assim como o primeiro time, eles fizeram algumas acrobacias e elevações.

— Finalmente, vamos receber nossos atletas do basquete!

Os dois times entraram em fila e ao mesmo tempo. Na quadra, eles também se cumprimentaram.

Fizeram mais alguns minutos de aquecimento e, depois, se posicionaram. Nesse meio tempo, Felipe me encontrou no meio da multidão, mas percebi que seus olhos estavam vermelhos. Ele não expressão nenhuma reação para mim, e voltou sua atenção para a quadra.

O jogo começou pontualmente às 17h.

Não tinha jeito, Jae era realmente a estrela do time. Ele era muito bom naquilo e tinha um domínio corporal perfeito. Ele também sabia os exatos momentos de ceder e parecia estar no controle de tudo o que acontecia.

A bola chegou em Vermelho, que também usou sua precisão e habilidade para conduzir a bola para onde precisava. Ele fez a primeira cesta. Nós três nos levantamos e gritamos para comemorar. Eu também notei que Alfa ficou muito feliz. Ele estava bem atento a cada passo dos jogadores.

O jogo continuou, e estava bem emocionante. Os Tigres também eram bons e não davam descanso, mas eu conseguia ver que os Dragões estavam com a vantagem.

Em determinados momentos, Vermelho alternava o controle com Felipe, especialmente quando ele precisava ser mais cauteloso. Era bom ver que eles estavam se saindo bem em dividir.

Deu para sentir que todos os Dragões da torcida prenderam a respiração quando Jae levou um empurrão tão violento que o jogou no chão. Ele caiu deitado e deslizou pela quadra. O jogo parou imediatamente e vários colegas foram tentar ajudá-lo. Ele recebeu assistência, mas disse que iria continuar. 

— Jota!

O grito na quadra bastante emudecida veio de Sunny. Demorou um pouco, mas os outros cheerleaders a acompanharam, fazendo a pose do J.

— A!

Os cheerleaders entraram em pose.

— E!

Por fim, eles fizeram a última letra.

— Estamos com você, capitão!

— É isso aí! — gritou Hyujoon.

De repente, toda a torcida dos dragões estava gritando o nome do Jae repetidamente. Assim que notei isso, entrei na onda, assim como Duda e Guilherme.

Mesmo quebrado, Jae foi recuperando o ânimo ao olhar para a torcida. Felipe falou com ele, provavelmente perguntando se ele estava bem. Logo, Jae estava de volta à quadra.

O jogo continuou, encaminhando-se para os momentos finais.

Era a hora da decisão. A bola foi passando de mão em mão até chegar a Vermelho, que estava bem perto do garrafão. Então, os olhos dele ficarão verdes. Ele deixou o lance final para Felipe.

Por um momento, tudo correu em câmera lenta. Vi meu namorado se encher de coragem e determinação e fazer um salto perfeito para arremessar a bola. Ela passou tão perfeitamente pela cesta que mal encostou no aro.

As arquibancadas enlouqueceram de comemoração. Eu rapidamente perdi Felipe de vista, já que os meninos voaram em cima dele para comemorar. Duda me abraçou junto com Guilherme e ficamos pulando como três malucos!

Ali, eu realmente deixei ir embora toda e qualquer preocupação ou tristeza com o 2º lugar. Dois dos três times que enfrentaram final naquele sábado voltariam com o ouro para nossa universidade, e um deles era o time do meu namorado. Eu estava muito muito feliz.

— Agora é só se preparar para a festa, galera! Essa vai ser daquelas! — gritou Duda.



JAE

20h35

sábado


Geralmente, eu não me atrasava. No entanto, quando você é o capitão do time que acabou de vencer o campeonato universitário, você precisa chegar elegantemente atrasado, e vocês já vão ver o porquê.

Eu tinha separado minha melhor roupa de festa e meu melhor perfume para aquela ocasião, então me arrumei razoavelmente rápido, mesmo tendo uma nova lesão, a qual eu estava dando meu melhor para ignorar. Finalmente, desci para o salão de festas, que estava reservado para nossa comemoração.

Assim que eu cheguei, os aplausos começaram na porta. Mesmo estando acostumado àquilo, eu ficava um pouco tímido. Me encolhi um pouco e fui entrando na festa. Por onde eu passava, recebia parabéns pela vitória, elogios, gritinhos e cumprimentos.

A festa estava com metade das luzes normais, e a outra metade colorida, o que dava um clima de meia-luz bem legal. Estava lotada de atletas dos diversos times dos Dragões, e também alguns intrusos amigáveis. Havia algumas mesas de comida e um bar com bebida à vontade. Mortífera estava sendo a DJ da noite.

Finalmente, encontrei ela.

Sunny estava conversando com um grupo pequeno de pessoas, que eu conhecia de vista: atletas da natação. Ela estava sorrindo, radiante como sempre, distribuindo seu carisma para os convidados, que deveriam estar dando os parabéns pela sua vitória. Ela ocupava ali o mesmo lugar que eu: líder de um time recém-premiado.

Casualmente, os nadadores se afastaram, e ela acabou olhando para mim. Eu me senti um adolescente de novo, como se nunca a tivesse conquistado. Ela tinha sido minha namorada, e agora não era nada, nenhum rótulo, nem mesmo uma amiga, mas ela ainda era tudo para mim.

Eu sabia que não deveria forçar uma aproximação, mas, então, ela sorriu para mim, o que me pareceu um sinal verde. Aquele sorriso era tão convidativo que eu naturalmente cruzei os passos que faltavam para chegar perto dela.

— Sunny! — eu disse, abrindo um sorriso. — Olha, obrigado mesmo pelo apoio que você me deu hoje. Eu não teria conseguido sem você.

Ela virou um pouco a cabeça, comovida.

— Ah, que isso. Eu só estava fazendo meu trabalho. Animando.

Ela riu suavemente, mas eu perdi um pouco a graça.

— Claro. Você só estava fazendo seu trabalho — eu disse, tentando soar profissional. — Qualquer outra pessoa que se machucasse teria o mesmo tratamento.

Ela fez uma careta de incredulidade, mantendo seu bom humor, que parecia inabalável naquela noite.

— Para, Jae! Você sabe que é especial. Eu teria que animar qualquer um, mas você é o capitão do time, e… você sabe, você é importante pra mim.

Meu olhar se iluminou imediatamente.

— Sou mesmo? Eu achei que você me odiasse.

Ela revirou os olhos.

— Você é um bobo. Eu fiquei chateada com a nossa treta, é claro… mas você ainda é importante pra mim. Você vai ter que fazer algo bem mais terrível para abalar isso.

Ela riu, e eu também, mesmo que parte de mim começasse a se desesperar, por saber os segredos que eu ainda guardava dela.

Como tudo que é bom dura pouco, Taesung apareceu do absoluto nada com dois copos de bebida, e claro que não iria deixar de me provocar: abraçou a Sunny de lado e deu um beijo bem grudento nela.

— Finalmente consegui as bebidas, amor — disse ele, entregando o copo a ela, que estava tentando não transparecer o constrangimento por aquela cena desnecessária. Taesung olhou para mim como se só então me notasse, o que era impossível. Ele obviamente tinha me visto antes de se aproximar. — Ah, oi, Jae. Parabéns pela vitória!

Me esforcei para abrir o sorriso mais simpático que eu poderia naquele momento.

— Obrigado. Parabéns a vocês também. Foi uma rotina incrível.

— Eu agradeço — disse ele. — Infelizmente não pude ir no seu jogo, mas aposto que você fez várias cestas fodas.

“Você não fez falta”, me segurei para não dizer.

— Ah, deu pra brincar — foi o que eu disse.

Ele assentiu e ficou aquele silêncio constrangedor. Ele agarrado com a Sunny, e eu parado igual a um pastel. Coloquei a primeira desculpa que achei para sair do limbo. 

— Eu vou conseguir uma bebida pra mim, tô precisando. E tenho algumas pessoas para cumprimentar.

— Claro, aproveita a coroa — disse Taesung, enquanto eu já começava a sair.

— Boa festa, Jae — disse Sunny. — Ah, como tá o seu machucado?

Hesitei, um pouco surpreso pela preocupação. A dor quando eu me mexia era terrível, mas não era nada grave.

— Eu vou ficar bem — foi o que eu disse, antes de me afastar, embora não tivesse tanta certeza sobre isso.



MAYA

21h12

sábado


Eu não era muito de beber. Não fui criada assim. Felipe também nunca bebia, já que isso poderia ser um fator a mais na sua desestabilização. Então, estávamos bem de boa, deixando a festa nos levar, dançando conforme a música e ficando bem perto um do outro. 

Frequentemente, ele me abraçava por algum tempo, me dava um beijo no rosto, na testa ou na mão. Era tão claro o que ele queria fazer, mas não sentia confiança. Eu também desejava muito aquilo, mas tinha medo de que Vermelho estragasse nosso momento. Ele vinha sendo um bom menino, bastante solícito, trocando de lugar com Felipe em momentos oportunos; ainda assim, não significava que a conexão entre eles era estável. 

Em determinado momento, Felipe foi ao banheiro, e eu já imaginava que isso causaria um encontro entre eles.

— Tudo bem? — perguntei. 

— Sim, tudo ótimo — confirmou ele; não parecia muito diferente de antes.

— Você falou alguma coisa com ele?

Ele franziu o cenho pensativo. 

— Bom, nós já tínhamos combinado nossos horários para a festa. Ainda estou no meu turno. Ele gosta mais da madrugada, quando as coisas já estão bem loucas.

— Então, ele não vai aparecer por agora?

Felipe me encarou, parecendo tentar me decifrar. 

— Não de propósito.

— Entendi — eu disse, tentando soar natural.

Casualmente, continuei dançando e olhei para o lado. Naquela área, estavam Duda e Guilherme. Eles eram o único casal que não tinha nenhum problema, nenhuma pendência a resolver. Um casal normal. Eu me odiei por pensar isso. Eu amava Felipe e não queria considerá-lo um problema. 

Me distraí pensando nisso, e, quando voltei para a realidade, eu estava assistindo Guilherme beijando o pescoço de Duda, de forma bastante intensa. 

Eu já estava desviando o olhar daquela cena que não pertencia a mim, quando Felipe encaixou seu queixo no meu ombro mais exposto, enquanto segurava minha cintura. Aquilo já parecia um pouco mais do que qualquer coisa que tivéssemos feito naquela noite, então eu fiquei um pouco tensa.

— Tudo bem? — perguntou ele; deduzi que tinha sentido minha tensão. 

— Claro, amor — eu disse, e coloquei as mãos em suas costas. 

— Eu quero tentar uma coisa — anunciou ele, e não esperou minha autorização. 

Ele selou meu pescoço, o que já foi suficiente para me deixar ainda mais nervosa. Então, continuou deixando beijos suaves entre o ombro e o pescoço, mas cada vez mais intensos. Eu apertei a camiseta dele entre meus dedos, enquanto entre me tirava os sentidos e me enchia de desejo. Estando em público, eu precisava ser discreta em minhas reações, mas estava sendo uma difícil missão. 

Quando parecia que ele iria sugar minha alma, ele se afastou calmamente, e eu encarei de perto os olhos verdes. Ainda era ele, e eu sorri. 

— Uau. 

Foi o que eu consegui dizer. Ele sorriu com a minha reação. 

— E nem sombra dele — acrescentou Felipe.

— Como conseguiu isso?

— Eu tenho teorias. Agora, isso é mais arriscado, mas eu preciso tentar. Posso?

Escondi um sorriso. 

— Você não precisa de permissão comigo, meu amor. 

Ele deu um risinho apaixonado, e se aproximou para me beijar. Mesmo com a permissão, ele foi cuidadoso. Chegou devagar, e nos beijamos com calma, durante vários minutos. Frequentemente, eu olhava para ele, verificando que os olhos ainda estavam verdes. Então, voltava a beijá-lo.

No fundo, eu sabia que não precisava olhá-lo, porque Vermelho era diferente. No entanto, eu não consegui sentir quando ele mudou.

Em uma das vezes, me afastei para encará-lo, e não consegui disfarçar minha decepção quando vi os olhos vermelhos. Soltei-o completamente e dei um passo atrás.

— Calma, eu não mordo — disse ele, parecendo impaciente com a minha reação.

— Desculpa — eu disse, sem ser muito convincente.

Vermelho suspirou e olhou para cima.

— Eu tentei, de verdade, cumprir minha parte no acordo.

— Relaxa, eu sei que não é culpa sua. Ele estava se saindo bem.

— É, eu sei, mas… uma hora vamos ter que encarar esse problema.

Cruzei os braços, intrigada.

— É o que estamos tentando fazer. Qual é a sua sugestão?

— Que tal se você tentasse nos ver como uma pessoa só? Eu fiquei um bom tempo te beijando sem você perceber.

Abri a boca e soltei os braços, incrédula. Por alguns segundos, sequer soube o que dizer; fiquei procurando as palavras até que as tivesse.

— Você não é ele, Vermelho. Você não é meu namorado. Vocês não são a mesma pessoa!

— Somos quase. É tão ruim assim me beijar?

— Não é sobre isso. Você não é meu namorado! Eu sinto que estou traindo ele.

— E se ele concordasse?

— Eu imagino que concordaria, mas não dá — eu disse, antes de me virar, ficando de costas para ele. Não queria mais ficar olhando para ele e lembrando que eu o tinha beijado, mesmo que por pouquíssimo tempo. Cruzei os braços para tentar me confortar.

— Desculpa — ele disse, em meio à música. — Não queria ser um transtorno pra vocês.

Eu não respondi; apertei mais os braços cruzados.

— Ele já foi — ouvi a voz, e me virei com cuidado.

Era ele, de olhos verdes. 

— Que droga — murmurou ele, enquanto eu voltava a me aproximar cautelosamente. — Eu achei que ia dar certo.

— Tá tudo bem — eu disse, colocando as mãos nos ombros dele. Por mais que não estivesse tudo bem, não precisava ficar ainda pior; principalmente não para Felipe. — Parece que vocês estão se entendendo cada vez mais.

— Estamos muito bem um com o outro, mas… Ainda não temos o controle completo.

— Você disse que tinha teorias — comentei, já que parecia que ele estava bem pensativo, e talvez quisesse falar sobre.

— É. Nós achamos… agora, praticamente temos certeza… de que o beijo desestabiliza a conexão. Nós meio que brigamos pelo controle do corpo o tempo todo, e temos aprendido a escolher os momentos de ceder e de tomar, mas o beijo desequilibra tudo. Bom, não o beijo em si, mas as sensações que você me causa.

Ergui as sobrancelhas.

— Então, a culpa é minha? — perguntei, em tom de brincadeira.

Ele riu, e me abraçou.

— Ai, meu amor, o que eu faço com você? Queria tanto te beijar, como um namorado normal…

— Vamos encontrar um jeito — eu garanti. — Não tenho pressa.

Me senti um pouco mal por saber que havia um jeito. A sugestão de Vermelho era que eu ignorasse a desestabilização e continuasse beijando, mesmo sabendo que não era mais Felipe; mas eu não conseguia suportar aquela ideia.

— Ele quer que eu o beije — confessei. — Como se fosse você. Mas eu não consigo achar essa ideia normal.

— Nós conversamos sobre isso — foi a vez dele confessar. Eu fiquei surpresa, mas não muito, tendo em vista os muitos acordos que eles tinham feito ultimamente. — Pensamos que seria uma solução a se cogitar, mas, se você não gosta dessa ideia, nada feito.

Suspirei nos braços dele.

— Ele não é meu namorado. Você é.

Ele passou a mão em meus cabelos, suavemente.

— Deixa isso pra lá. Não vai mais acontecer.

Eu fiquei um pouco mais tranquila, mas também pensando se um dia estaria confiante o suficiente para beijar Felipe outra vez.



JAE

23h34

sábado


Eu estava debruçado no bar pela sétima vez aquela noite, esperando minha bebida. Eu não estava bêbado, mas estava fingindo que beber estava fazendo eu me sentir melhor. Ao menos, para mim, estava funcionando.

— Nossa, você tá péssimo, Youngjae.

A voz de Ana Laura ao meu lado me deixou ciente de que era só para mim mesmo que eu conseguia mascarar meu estado.

— Te incomodo? — perguntei, sem olhar completamente para ela.

— Incomoda, sim — disse ela, sem se deixar abalar.

Eu escondi um sorriso.

— Você é meu amigo, eu não gosto de te ver desse jeito — ela explicou.

— Bom, eu estou tentando ficar melhor — eu disse, pegando o drink que acabava de chegar.

— Como se álcool fosse adiantar alguma coisa.

— Pelo menos eu tô tentando — enfatizei, e dei meu primeiro gole.

— Bom, nós dois sabemos bem o motivo dessa fossa. Sendo assim, deveríamos saber como sair dela. Bom, pelo menos eu sei.

— E você vai me contar ou vai me deixar sofrer sozinho? Ah, eu já sei: você vai me deixar essa informação como um enigma para eu desvendar. Grande ideia.

Ela riu.

— Eu gosto de enigmas, mas, se você quer clareza, então eu te dou. Você está na bad porque sua ex tá com outro cara, então, é óbvio que você precisa se deixar ser feliz com outra pessoa pra ficar bem.

— E por que vingança me deixaria bem?

— Não é por vingança, Jae. Porra! É pra você se permitir viver as coisas. Sunny já superou, tá em outra, e você deveria fazer o mesmo. 

— Eu não tô interessado em ninguém no momento. Aliás, eu ainda amo a Sunny.

— Que bonitinho, mas não adianta nada se ela não te ama de volta. E isso aqui é uma festa. Não precisa planejar um casamento, só beijar na boca por alguns minutos.

Franzi o cenho e a encarei, desconfiado.

— Que história é essa de casamento?

Ela suspirou, parecendo exausta e um pouco irritada.

— Eu só tô dizendo que você pode ficar com alguém sem compromisso. Provavelmente não vai mudar nada, mas, pelo menos você se distrai.

Estreitei os olhos, sem estar muito confortável com a sugestão, mas precisava admitir que parecia uma boa ideia. Me distrair com outra pessoa e tirar a Sunny da cabeça por algumas horas.

— Tá — eu disse, voltando a atenção para o copo. — Vou terminar isso aqui para tomar coragem e começar o exaustivo processo de escolher alguém, oferecer um drink, paquerar e, quem sabe, conseguir alguma coisa.

— Bom, é chato mesmo. Mas, se quiser pular todo esse processo, sabe onde me encontrar.

Olhei repentinamente para Ana Laura, surpreso.

— Isso tudo era você me cantando?

Ela riu.

— Não, seu idiota. Eu tô tentando fazer você ficar bem, de verdade. E você não é de se jogar fora, então…

— Afe, você quer ficar comigo por pena — eu disse, novamente olhando para o drink.

— Caralho, você é muito complicado!

Eu me permiti rir.

— Foi mal, Nala. Eu queria ser uma pessoa normal.

— Você é normal, para de graça. Enfim, Youngjae — ela reuniu toda sua paciência de volta nessa frase. — Eu não quero que você me interprete mal, então, deixando claro: você é um amigo muito importante, e me interessa que você esteja bem, em vez de debruçado em um balcão de forma deprimente. Além disso, você é a porra do capitão do time de basquete, um cara bem gostoso que eu realmente pegaria em uma festa aleatória, então, se for do seu interesse, e se for ajudar você, eu ficaria com você, sem compromisso, por uma noite. Basicamente é isso.

— Tá bom, eu vou pensar sobre isso.

— Claro que vai. Eu vou me juntar com o time. Se cuida, hein.

Ana Laura se afastou, e eu, inconscientemente, me virei para vê-la caminhar para junto do time de vôlei. Sem que eu me desse conta, já estava olhando minha amiga com outros olhos.

— Realmente… — murmurei, antes de virar todo conteúdo que ainda restava no copo. — Não é de se jogar fora.

Coloquei o copo sobre o balcão, mas não o soltei, ainda pensando nisso.

“Tem certeza, Jae?”, me perguntei. “A Sunny vai ver e não vai ter volta”.

“Mas ela já te fez ver coisas demais, não é?”.

“Ela não sabe o que eu sei. E isso não é, não pode ser uma vingança”.

“Então que não seja. Você pode se divertir por uma noite, não pode?”.

Soltei o copo e olhei novamente para Ana Laura. Ela agora estava conversando animadamente com os colegas de time. Maya estava entre eles, o que devia indicar que os meninos já tinham trocado de turno, mas não dei atenção a esse fato.

Antes que eu mudasse de ideia, saí do balcão e caminhei na direção deles. Queria chegar e acontecer, mas isso era demais para mim. Felizmente, ela me notou pouco antes de eu estar realmente perto.

— Ah, largou o balcão? — perguntou ela.

— A proposta ainda está de pé? — devolvi a pergunta.

Ela abriu um largo sorriso.

Me puxou pelo braço para nos afastarmos um pouco do grupo. Então, ficou de frente para mim, se pendurou no meu pescoço e me beijou.

Eu não fazia aquele tipo de coisa há muito tempo. Tinha me esquecido da sensação. Ana Laura não era mesmo um interesse romântico, mas era alguém minimamente especial na minha vida, o que tornava aquela experiência diferente e interessante. Mas, de fato, eu consegui esquecer tudo à minha volta por um bom tempo, me concentrando apenas em explorar o corpo dela e sentir aquelas sensações todas que o beijo me causava. Não havia espaço para pensar em nenhum dos meus problemas, nem mesmo no que as pessoas ao redor poderiam pensar.

Pela primeira vez em muito tempo, eu estava bem de boa.



SUNNY

23h45

sábado


Eu sabia que não deveria, mas eu estava furiosa.

Tentei disfarçar ao máximo, não olhar tanto e, principalmente, não deixar meu descontentamento aparente. Ainda assim, era fato que ver Jae beijando outra garota, especialmente outra capitã, não era uma coisa muito agradável.

A noite foi passando, e eu tentei voltar a curtir a festa, me dividindo entre beber, beijar Taesung e dançar.

Estávamos fazendo uma pausa, pegando mais dois copos de cerveja. Ficamos ali perto do bar, observando a festa. Ana Laura e Jae ainda estavam cheios de fogo juntos, mas eu me esforcei para olhar para qualquer outro lugar.

Notei que Maya estava junto com o time dela, mas não parecia muito feliz. Provavelmente, desejava estar com Felipe, mas eu não o via em lugar nenhum.

Quando o encontrei, estava chegando perto de nós, mas não era exatamente ele.

— Oi, moça bonita — disse Vermelho. — Aproveitando a noite?

Franzi o cenho, achando aquilo bastante esquisito.

— É, eu tô — eu respondi, sem entender.

Taesung pigarreou.

— A moça bonita está acompanhada, se não percebeu.

— Percebi sim, mas não sabia que tinham… oficializado alguma coisa.

Taesung abriu a boca para responder, mas eu fui mais rápida.

— Não oficializamos — eu disse.

Senti o olhar de Taesung sobre mim, mas ele poderia achar o que quisesse. Nós não éramos namorados.

— Nesse caso, eu posso te roubar um pouco? — Ousou Vermelho.

Taesung assumiu uma expressão de raiva e indignação e se preparou para responder, mas Vermelho fez um acréscimo.

— Não é nada demais — garantiu ele. — Só quero um pouco de companhia por alguns minutos.

— Por curiosidade, — disse Taesung  tentando soar educado — a companhia da Maya não serve?

— Serviria, mas ela não gosta de mim — explicou ele, e se voltou para mim. — Então, você me acompanha?

Hesitei um pouco, mas ele estava sendo bem legal. Eu também não gostava da ideia de Taesung achando que era meu dono.

Abri um sorriso

— Claro.

Vermelho sorriu de volta e estendeu a mão para mim. Eu a segurei e o acompanhei pelo salão. Sequer olhei para trás. 

Ele passou um pouco mais perto da DJ Mortífera e fez um sinal. Ela trocou a música.

Eu jamais esperaria isso do Vermelho, mas aquele momento foi único. Ele dançou com calma e, ao mesmo tempo, muita firmeza e segurança, me conduzindo a cada passo, me envolvendo em cada giro, me fitando com aquele par vermelho, enquanto um sorriso leve ameaçava despontar. Eu mal conseguia me dar conta de como estava sorrindo durante toda aquela dança. Não havia uma coreografia, mas eu conseguia sentir para onde ele me levava a cada segundo.

Poucos minutos depois, a música acabou. Vermelho fez uma reverência como agradecimento.

— Obrigado por fazer minha noite feliz, Sunny.

Eu abri a boca para responder, mesmo sem saber o que dizer, mas não precisei dizer nada: ele já estava se misturando na multidão.

— Obrigada — eu sussurrei, mesmo que ele não pudesse ouvir.


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